quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sobre o autor: Henry Le Bal



Henry Le Bal é escritor, poeta e dramaturgo. Nascido em 1959 em Boulogne-Billancourt, ele divide seu tempo entre a cidade de Quimper, onde mora e trabalha; o Rio de Janeiro que ama; e Beirute, onde seus espetáculos são encenados desde 2002. Ele é autor de seis compilações de poesias, quatro peças de teatro, três romances, e dois livros de arte.

Quando era aluno-oficial da Marinha, descobre um artigo sobre a teoria das cores que o faz escolher, definitivamente, o caminho das letras. Le Bal começa a estudar Filosofia na Faculdade de Reims, e em seguida Teologia Católica em Strasbourg. Seus trabalhos universitários o levam a explorar os fundamentos teológicos da beleza.

Aos 29 anos, publica seu primeiro texto de teatro, “La Fête”. Em 1993 é a vez de “Sitio”, sua segunda peça. Seu processo criativo começa então a alternar a criação de espetáculos com literatura. Neste período, muitas outras obras são publicadas, principalmente textos poéticos. O diálogo permanente do trabalho de cena com sua escrita leva seus espetáculos a serem exibidos em diferentes continentes, em diversas línguas.

No ano 2000, “Le Doigt de Dieu”, seu primeiro romance, é publicado e marca uma nova etapa da sua carreira. Um segundo livro “Le Janvier Du Monde” (2006, Éditions L´Age D´Homme) alterna diversos estilos literários: prosa, poesia e teatro.
Corcovaël é uma adaptação para os palcos do diálogo final deste segundo romance. Trata-se de uma peça em dois atos, que conta o encontro de Jude, um escritor, e o anjo do oitavo dia da criação do mundo, no Rio de Janeiro, em Paquetá, pequena ilha da Baía de Guanabara.

O terceiro romance de Le Bal, “La Porte” (2008, Éditions L´Age D´Homme) também termina com uma peça, “Une heure e quart” e encerrada uma sofisticada trilogia inspirada no Brasil.

Sentado no meu pequeno banco de pedra, na beira da praia de Catimbau, eu olho, todas as manhãs na mesma hora, o Dedo de Deus, a montanha no fundo da Guanabara, baía do Rio. Eu estava em Paquetá, minha ilha, meu paraíso na terra, que fica numa baía poluída como uma imagem do inferno. Paquetá, a ilha cercada pela baía do Rio.

Sentado no meu pequeno banco de pedra, eu olhava os detritos largados na praia. E eu vi as palavras. Em todas essas palavras, entre nós e a montanha que chamamos de "Dedo de Deus". Eu olhava a montanha sem baixar meu olhar para a água da Guanabara e tudo era beleza. Se eu baixasse meus olhos, a vista das palavras ao conduzir lágrimas.

Então, eu fechei os olhos por um longo tempo, sentado no meu banco. E também verdade que ouvimos um grande pássaro, com uma de suas asas batendo, eu ouvi Corcovaël. Corcovaël, o anjo da Guanabara, a baía do Rio, rio de janeiro, o Rio de Janeiro.

E o anjo disse-me, escuta.

E também verdade que eu ouvi os olhos fechados, a ilha na baía do Rio, batendo suas asas, aqui está o que ele me disse. (Henry Le Bal)
 
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